quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Últimos Votos

Algumas fotos da celebração dos meus últimos votos, na Igreja de São Paulo em Braga, no dia 31 de Julho de 2014, dia de Santo Inácio de Loiola. Nessa mesma ocasião os Jesuítas em Portugal celebravam os duzentos anos da restauração da Companhia (1814-2014). A Missa foi presidida pelo nosso Superior Provincial, o Padre José Frazão Correia.










Eis as palavras ditas por mim no final da celebração:

Há pouco mais de 20 anos atrás, a minha vida teve uma mudança radical. Uma mudança nada planeada, e que não estava de todo prevista.

Como a tantos outros, muitas vezes me têm perguntado sobre a minha vocação, sobre o meu chamamento. Trata-se de algo que é ao mesmo tempo “simples” e “difícil” de explicar.

“Simples” porque posso dizê-lo em quatro ou cinco palavras apenas. “Difícil” porque (pelo menos para quem não o experimentou por dentro) é difícil que estas palavras façam a menor justiça à realidade.

A mudança de rumo na minha vida está ligada ao facto de ter ficado literalmente fascinado com uma pessoa.

Curioso verificar que, apesar separado no tempo de quase 2000 anos, a ligação de Jesus de Nazaré connosco/comigo se torna possível. (E com um impacto bem real no aqui e agora da minha vida).

Com o passar do tempo, e com o aprofundamento deste conhecimento, este fascínio não só não se esgota (como parece ser o que acontece com tanta coisa neste mundo), mas na verdade até cresce.

Diz São Paulo: “considero tudo como lixo, comparado com o conhecimento de Jesus”. E diz ainda: “vivo na fé do Filho de Deus que me amou e Se entregou a Si Mesmo por mim”.

Quando porém tentamos seguir Jesus, caminhar como Ele caminhou, é que vemos que afinal não tão é fácil como podíamos antes ter imaginado... Surpreendentemente às vezes até mesmo nas coisas mais simples, nos passos que parecem mais pequenos podemos falhar tão redondamente – algo que nos faz voltar o nosso olhar para Jesus com uma ainda maior admiração!…

O cálice que nos é dado beber é um cálice que é doce… e ao mesmo tempo também amargo. E amargo sobretudo nos momentos em que, mesmo tentando, não tive a sabedoria ou a virtude para corresponder a “tanto bem recebido”. Recordo-me agora das palavras de Pedro: “Senhor, Tu sabes tudo…”. Tu bem sabes, Senhor…

No entanto, sei bem que não é a minha fidelidade (ou falta dela) o mais importante. Ele (e a Sua fidelidade) é o mais importante. E, diante disso, o resto é mesmo secundário…

Ao longo destes 20 anos, é impressionante para mim ver a quantidade de horizontes tão novos que foram sendo abertos na minha vida. Algo que tanto tem enriquecido a minha vida. E dou graças a Deus por isso…

A vela do meu barco é pequena e triangular. Por isso enquanto outras embarcações parecem avançar tão bem com ventos de popa, é com ventos cruzados que o meu pequeno barco parece navegar melhor.

Algumas vezes, porém, o mar chegou a ficar de tal maneira encapelado que cheguei a perguntar-me “onde é que eu me vim meter?!...”. Mesmo nesses momentos, porém, sei bem que em nenhum outro caminho, seguindo a nenhum outro Senhor (mesmo que isso fosse possível) a minha vida seria tão cheia, tão plena de sentido – e isto mesmo nos momentos difíceis (ou se calhar ainda mais nesses momentos!). Lembro-me que no dia da minha entrada no Noviciado disse-me durante Missa o P.António da Silva (já com uns 80 anos): “Vale bem a pena!”. Tinha toda a razão!

Um dos traços próprios da nossa vocação é este andar “de terra em terra”. O próprio Jesus nos diz então que, ao contrário das raposas e dos pássaros, é natural que não tenhamos para nós tocas ou ninhos (uma ou outra vez se calhar até apetecia...).

Jesus diz que não tem sequer onde reclinar a cabeça. Mas isso é para Ele, que foi à frente: nós sim, temos onde reclinar a cabeça, tal como São João tão visualmente nos mostra no seu Evangelho. E é isso que dá força e sentido à nossa vida.

Dou graças a Deus pela vida que Ele me deu.
Dou graças a Deus pela vocação que Ele me deu.


(cfr. Fil 3,8; Gal 2,20; EEs [233]; Jo 21,17; 1ª Jo 3,20; Mc 4,37; Mt 9,35; Lc 9,58; Jo 13,23)




(texto com a fórmula dos últimos votos no post anterior)

1 comentário:

  1. Luis, obrigado!
    Sim, de momento apenas isto: Obrigado! :)
    Vá, e isto também: ABRAÇO grande.

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